No Brasil, acredita-se que os primeiros estudos sobre energia eólica tenham sido realizados na década de 1930. Um dos pioneiros foi o engenheiro paulista Catullo Branco, na época funcionário da Secretaria de Viação e Obras Públicas do Estado de São Paulo.
Catullo esteve à frente da construção das torres com hélices utilizadas para os primeiros testes do potencial eólico de São Paulo. Detalhes sobre a vida do engenheiro estão disponíveis ao público na Fundação Energia e Saneamento, em São Paulo (SP). O local conta com um acervo com mais de mil fotografias, 25 mil páginas de documentos textuais e 529 plantas e desenhos técnicos do engenheiro.
A trajetória do paulistano também está retratada no livro “Catullo Branco: O Homem dos Moinhos de Vento”, de autoria de Miguel Zioli, Isabel Regina Felix, Maria Blassioli Moraes e Alfredo Moreno Leitão. A obra – produzida pela Fundação Energia e Saneamento com apoio do Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo – narra que Catullo sempre teve uma grande preocupação com o custo da produção da energia.
Ele justificava os experimentos eólicos pela possibilidade de utilização de mecanismos simples e automáticos. Os primeiros testes chamavam a atenção pela utilização de muitas peças de sucata, conforme conta o historiador Miguel Zioli:
“Catullo Branco foi um intelectual de primeira linha. Como funcionário da Inspetoria de Serviços Públicos (ISP), ele acompanhou os esforços realizados para aplicação do Código de Águas à época, ao mesmo tempo que concentrava os seus esforços no estudo de novas formas de produção de energia. Embora ele tivesse passado parte significativa de sua vida preocupado com as usinas hidrelétricas, nos pareceu bastante importante esses estudos que fez numa época que ainda não se falava de energia eólica como hoje. Os testes foram feitos com uma torre de cinco metros com peças feitas nas próprias dependências da secretaria e foram realizados em condições pouco ideias, com a torre pequena num ambiente cercado por muitos obstáculos que dificultavam determinar a potência em função da velocidade do vento. Depois dessa primeira experiência, ainda em 1934 ele construiu uma torre de 13 metros que foi instalada em área da Estrada de Ferro Campos do Jordão. As rodas e as pás foram construídas nas oficinas da repartição de Águas e Esgotos. E Catullo fez a estrutura da torre de longarinas de caminhão Chevrolet, adquiridas em ferros velhos. Foram usadas quatro hélices diferentes nos experimentos: uma com duas pás fixas, uma com duas pás móveis, uma com três pás móveis e outra com quatro pás móveis. A roda era de madeira para as hélices e possuía seis metros de diâmetro.”
Somente em 1992 que entrou em operação comercial a primeira turbina eólica do Brasil e da América do Sul. A instalação foi no Arquipélago de Fernando de Noronha (Pernambuco), resultado de uma parceria entre o Centro Brasileiro de Energia Eólica (CBEE) e a Companhia Energética de Pernambuco (CELPE), com financiamento do instituto de pesquisas dinamarquês Folkecenter.
Na época, a geração de eletricidade dessa turbina correspondia a cerca de 10% da energia gerada na Ilha, proporcionando uma economia de aproximadamente 70 mil litros de óleo diesel por ano no local. Mais tarde, em 2000, uma segunda turbina foi instalada no local, aumentando essa contribuição para 25%.
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