A Organização das Nações Unidas (ONU) definiu o tema “Água e Desenvolvimento Sustentável” para ser o centro das discussões e reflexões em todo o planeta no Dia Mundial da Água em 2015, celebrado no dia 22 de março.
Em razão disto, a Web Rádio Água, juntamente com o Programa Hidrológico Internacional da UNESCO (PHI-UNESCO), produziu uma série de conteúdos que trazem a visão deste conceito por pesquisadores e especialistas em temas como a crise hídrica na América Latina, o acesso democrático à água, a ciência e a tecnologia a favor dos recursos hídricos, educação ambiental, nexo água e energia entre outros.
Ao todo serão 12 entrevistas com representantes de vários países que trarão sua perspectiva sobre o tema, além do diálogo sobre ações e projetos que estão sendo executados em prol da preservação e de um uso sustentável dos recursos hídricos.
A próxima entrevistada da série é a diretora de pesquisa do HidroEX, Tania Brito, que comentou a importância da água para o desenvolvimento sustentável:
“Bom, o primeiro aspecto é que não há desenvolvimento sem água. A água é necessária para tudo, para todos os processos: produção de alimentos, confecção de bens, ou seja, é fundamental para agricultura, indústria e abastecimento, para tudo mesmo. Então, a água é o elo entre todas as atividades, é a força motriz do desenvolvimento econômico social, é fundamental para o bem estar e a melhoria da qualidade de vida das populações. Não há desenvolvimento sem água. Várias partes do mundo, inclusive o Brasil – agora cada vez mais em evidência, tem carência desse recurso. Então, como desenvolver enfrentando esta questão? Eu poderia dizer: fazendo melhor uso desse bem, otimizando, aperfeiçoando tecnologias, economizando, reutilizando, captando água de chuva, entre várias outras ações que a gente poderia e já vem tomando. Cada vez mais existe esta compreensão, especialmente de empresas, mas eu diria que em tanto por ideologia, mas por necessidade”.
Tania Brito, explica as ações do HidroEX e ressalta a importância da colaboração interinstitucional para elaboração e desenvolvimento de projetos para melhor gestão dos recursos hídricos:
“O Hidroex é um Centro relativamente novo. É um Centro de categoria 2 da UNESCO, ou seja, tem a chancela da UNESCO e se propõe a ser um centro de excelência em água e para tal tem desenvolvido atividades de educação e pesquisa em temas relacionados à água. Especialmente relacionadas à conservação, recuperação e a melhor gestão dos recursos hídricos. O Hidroex tem sido também um articulador, um catalisador de um complexo de instituições que se unem para formar o que nós temos chamados de Cidade das Águas. São 15 instituições de ensino e pesquisa, várias universidades federais e estaduais que estão se instalando em um condomínio temático das águas com sede em Frutal, no triângulo mineiro, onde terão diversas atividades compartilhadas. Já estão em fase de construção, quase finalizada, 16 laboratórios compartilhados, bibliotecas e alojamentos. Também estamos desenvolvendo em cooperação, uma integração, uma rede dessas várias instituições, a gente está desenvolvendo uma agenda de pesquisa focada em diversos temas relacionados à água tais como: educação para as águas, gestão e conservação da água, hidrogeologia, ecohidrologia, água e agricultura, água e energia, água e saúde, história e cultura da água, entre outros temas que elencamos como relevantes. Estamos articulando e desenvolvendo projetos de cooperação destas várias instituições. Também estamos pensando em instituir mestrados interinstitucionais voltados para os recursos hídricos, ou seja, tem uma potencialidade enorme em torno dos recursos hídricos que está sendo construído e elencado neste momento na Cidade das Águas”
Sobre a crise hídrica enfrentada por algumas regiões brasileiras, especialmente o sudeste, Tania Brito pontua fatores cruciais que precisam ser melhorados para mitigar os efeitos da escassez de água e alerta para a necessidade de mudanças no comportamento da população em relação a cultura do desperdício e a conservação dos recursos hídricos.
“A gente tem vivido mais uma crise ambiental do que apenas uma crise hídrica, principalmente considerando que a quantidade e qualidade dos recursos hídricos dependem das ações realizadas na bacia hidrográfica. Então, se nós desmatamos, secamos as fontes, poluímos, assoreamos, nós acabamos comprometendo os recursos hídricos. Não adianta olharmos para o nível de determinado reservatório, ali temos apenas as consequências das ações que ocorrem no entorno, na cabeceira dos rios, na bacia hidrográfica como um todo. Um problema sério no País é o saneamento, no que diz respeito ao esgotamento sanitário, 70% dos municípios brasileiros não possuem tratamento de esgoto, os rios estão sendo continuamente degradados. Quanto mais contaminação, mais oneroso é o tratamento da água, mais problemas ambientais e sociais a gente enfrenta, como doenças de veiculação hídrica, degradação ambiental. Outro problema é a perda por infraestrutura obsoleta, que provoca vazamentos. Praticamente de 40% da água se perde entre o tratamento e a torneira das nossas casas. Claro, também temos a cultura do desperdício e uso inadequado. A crise que temos enfrentado no momento tem um lado positivo: as pessoas tem usado este bem como se ele nunca fosse acabar e agora elas percebem que sim, a água pode acabar. Acredito que a educação é fator chave. Educar a população sobre o quão valioso é esse bem e como ele tem que ser protegido. Também estamos vivendo um tempo de risco e incertezas em relação às mudanças climáticas, estes são novos desafios que precisamos nos adaptar, preparar para mitigar o efeito dessas mudanças”.
Tania Brito tem experiência na área de Oceanografia Biológica, com ênfase em taxonomia e ecologia de octocorais de regiões frias e ecologia de bentos antárticos. Atualmente, tem atuado nas áreas de: Gestão Ambiental, Gestão de Bacias Hidrográficas, Ecologia de Ecossistemas Aquáticos. É Diretora de Pesquisa da Fundação UNESCO-HidroEX, onde está em exercício desde 2011.
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